Arinto

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Em 2012, numa prova didática promovida pela Real Companhia Velha, em Vila Nova de Gaia, foram apresentadas, pela equipa da chamada Fine Wine Division, amostras de vinificações por casta, algumas das quais estiveram na origem de vinhos experimentais que redundaram na criação da gama Series daquela empresa.

 

Porém, entre variedades raras ou quase em extinção, a memória fixou-se-me no vinho de uma casta bem conhecida e disseminada, de norte a sul do país. A casta Arinto foi, nessa mesma prova, responsável por uma explosão no palato, provocando uma sensação metálica sobre os dentes que se afigurou como um soco desferido por Ali. A extraordinária acidez da casta, num vinho ainda por domar, foi brutal e impiedosa. 

 

Com presença em todo o território nacional, num total que ascende a quase 6000 ha., ou seja, 3% do encepamento, à variedade, reconhecida como Pedernã nos Verdes, cabem sinonímias como Pedernão, Arintho, Val de Arintho, Chapeludo ou Pé de Perdiz Branco. 

 

Regressemos à dita prova: a sua descrição apontava para uma casta de “abrolhamento tardio, elevado vigor, um pouco rebelde em termos culturais (vegetação desorganizada); cacho grande, ciclo longo, maturação tardia”. Resulta “muito definida e pura, elegante e com extraordinária acidez”. 

 

Esta pode ultrapassar valores de 9 gr./l. e chegar mesmo às 12 gr./lt., característica que augura aos vinhos por si produzidos enorme capacidade de envelhecimento, potencial que diminui quando fermenta em barrica. Apresenta produtividade alta quando em clones certificados, podendo superar 10 ton./ha. É de produção regular e adapta-se a todos os tipos de solo: no granito dos Verdes, nos solos calcários e ácidos do litoral (Bairrada ou Lisboa), passando pelo xisto duriense aos franco-argilosos (Vidigueira) ou arenosos (Costa Vicentina) do Alentejo e Algarve.

 

A componente ácida dos vinhos, que atribui a sensação de frescura, conjugada com a sua mineralidade e o teor alcoólico que obtêm quando as vinhas possuem boa exposição solar, contribuem para a elaboração de vinhos estremes de grande qualidade, facto reconhecido por cada vez mais produtores de todo o país.

 

Esta componente de acidez torna-a também especialmente apta como melhoradora, contribuindo para lotes vencedores: no Minho, com Loureiro e, por vezes, Alvarinho e Trajadura. No Tejo, é garantia de frescura nos lotes com Fernão Pires e, no Alentejo, a sua valia enquanto monocasta é já explorada por algumas casas. É, realmente, uma casta nobre, verdadeira embaixadora dos vinhos brancos portugueses.